Em Desaparecido para sempre,
Harlan Coben segue a mesma receita que seus livros anteriores: o de surpreender
o leitor do começo ao fim
Will Klein sempre teve como
herói seu irmão mais velho Ken, que está desaparecido há onze anos. Ele e sua
família preferem pensar que ele está morto, mas uma revelação no leito de morte
de sua mãe muda tudo: Ele está vivo.
Apesar de não saber se pode confiar
nas palavras da mãe, pois ela não estava muito lúcida por conta do câncer, o
que ela havia lhe falado poderia desestruturar toda a sua vida já estabilizada.
Will trabalha em uma ONG que cuida de crianças de rua e namora Sheila há quase
um ano.
Mas o que ele não esperava, era
encontrar no meio das coisas de sua mãe, um retrato de Ken tirado há dois anos.
A partir daqui sua vida começa a virar uma verdadeira bagunça. Ele não sabe o
que pensar e muito menos o que fazer. E, para incrementar a trama, outro desaparecimento
misterioso acontece: Sheila some repentinamente, deixando apenas um bilhete
para Will dizendo que o amaria para sempre.
“Desaparecido para sempre” é um livro que nos conta o
mistério envolvendo Julie Miller, vizinha e ex- namorada de Will, que foi
estuprada e morta no porão de sua casa. Não há nenhuma pista sobre o porquê o
crime aconteceu, mas a polícia achou um único rastro para dar o pontapé inicial
às investigações: o sangue de Ken. E assim, ele passa a ser considerado o
principal suspeito do crime, apesar de sua família não acreditar realmente que
ele esteja envolvido. Ken é procurado desde então pelo mundo, mas ninguém sabe
ao certo seu paradeiro ou se realmente está vivo.
O livro começa
meio parado, mas ganha fôlego após o sumiço de Sheila. A partir daqui, o
protagonista se vê obrigado a revirar histórias do passado junto com Squares, dono de uma escola de ioga frequentada por diversas
celebridades, que lhe garantem acesso a todo tipo de informação. Assim, eles
começam a busca pela verdade sobre que houve na noite do assassinato
de Julie Miller e o porquê Sheila partiu e agora era considerada pelo
diretor-assistente do FBI, Joseph Pistillo, suspeita de matar dois homens no
Novo México.
Ao longo da história, HarlanCoben apresenta um grande quebra cabeça, aqueles com pecinhas miúdas que,
quando você começa a achar está entendendo, percebe que deixou passar alguma
pista. E, por mais que você tente, você não vai conseguir descobrir o final,
apenas terá uma teoria. Ele confunde o leitor do começo ao fim, ao introduzir
um novo personagem ou relembrar um acontecimento antes esquecido, ou “brechas”
que deixamos passar. Isso é típico de seus livros, como por exemplo “Refúgio”,
onde você pensa que vai acabar de um jeito e termina de outra maneira.
No começo de “Desaparecido
para sempre”, o autor nos apresenta Will como um homem “frágil”, que está
completamente sozinho, sem informações e perdido. Após começar a investigar
sobre o passado de seu irmão e de sua namorada, ele se pergunta se realmente os
conhece. Mais para o meio do livro que o protagonista realmente amadurece. Se
antes ele era considerado uma pessoa que não sabia se defender nem de um soco,
no final ele mostra que pode ultrapassar seus próprios limites para salvar sua
família e, principalmente, Katy Miller, irmã de Julie:
“Perguntei-me de onde viera
aquela coragem e compreendi que ela brotara do simples fato de que eu não tinha
mais nada a perder. Vai ver a coragem é isso, é quando você chega ao ponto em
que não dá mais a mínima.”
Para agradar os fãs de livros de
suspense policial e dar mais ritmo a história, Harlan inclui na trama dois
antigos amigos de Ken. Philip McGuane, um mafioso disfarçado, e John Asselta,
famoso por matar suas vítimas por estrangulamento e popularmente conhecido como
Fantasma. Eles passam a vigiar Will sem uma explicação direta sobre o porquê:
“Às vezes encontramos pessoas
cuja bondade inata nos atinge como um raio de luz quase ofuscante. Mas outras
vezes deparamos exatamente com o oposto – alguém cuja mera presença nos
asfixia, nos encobre com uma pesada nuvem de putrefação e de sangue”.
O autor também se preocupa em
incluir questões presentes no dia a dia, como a pobreza, o tráfico de drogas e
a prostituição de crianças, adolescentes, mulheres e travestis, sem deixar isso
superficial, retratando os motivos que os levam a seguirem esse rumo e o porquê
continuam. Além desses temas, Harlan mostra ainda que há bondade em algumas
pessoas, mesmo diante do caos, como o caso de Will, Sheila e Squares que
trabalham na Covenant House (só uma curiosidade, a instituição realmente
existe):
“[...] Quando estamos no abrigo,
toda a nossa atenção, toda a nossa concentração é dirigida para a garotada.
Eles merecem pelo menos isso. Pelo menos uma vez em suas vidas tristes eles são
o centro das atenções. Sempre. Cumprimentamos cada um deles – perdoem a minha
forma de expressar isso – como se fosse um irmão perdido há muito tempo. Nós os
ouvimos. Jamais apressamos ninguém. Seguramos as mãos deles e os abraçamos.
Olhamos direto nos olhos. Nunca os ignoramos. [...] Damos amor a eles para
valer, de forma completa e sem restrições”.
Ao terminar a leitura a primeira
coisa que pensei foi: Harlan é genial!. O último capítulo é surpreendente, até
mesmo para Will, pois não houve pistas em nenhuma parte do livro que
acarretasse aquele fim. Ele consegue enganar a todos, inclusive o personagem
que criou.
“Desaparecido para sempre” é uma história cheia de
mistérios, mentiras e reviravoltas. O autor encaixa narrativas paralelas de
forma surpreende, e faz o leitor querer chegar às últimas páginas o mais rápido
possível, para no fim descobrir que “a mais desagradável das verdades é
preferível à mais bela mentira".
Título:
Desaparecido para sempre
Título original: Gone for Good
Autor: Harlan Coben
Editora: Arqueiro
Páginas: 320
Preço: R$ 20,80 até R$ 30,00 (Esgotado pela editora)
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